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Foto do escritorCarla Machado

Manuelino

O Manuelino é considerado por muitos como sendo o  medievo-renascentismo na Arquitectura Portuguesa, entre o período de 1490 a 1530. 

Apesar das influências internacionais, adquiriu características únicas. Surgiu nos finais do Gótico, e como tal contém elementos arquitectónicos do Gótico final ou Flamejante.

O Gótico Flamejante é mais trabalhado do que o Gótico convencional, principalmente nas coberturas, tornando-se mais espectaculares. Contudo, não aposta tanto na verticalidade, mas sim no aumento dos vãos pouco apoiados estruturalmente. A decoração do Gótico Flamejante torna-se excessiva. 

Portugal nos finais do Século XV, após a batalha de Aljubarrota, o país encontra-se mais estável e de boas relações com Inglaterra. Encontrando-se numa situação económica razoável, condições essas que permitiu o inicio da expansão marítima, primeiro para o Norte de África, depois para as ilhas e Sul de África, posteriormente a África Oriental  e Índia e finalmente ao Brasil  e Américas.

O Manuelino trouxe ao panorama arquitectónico, novos sistemas construtivos e novas técnicas de luz, tornando-se numa arquitectura diferente do Gótico na sua concepção. Não apenas por introduzir novos elementos decorativos, mas principalmente pelas inovações arquitectónicas.

Este estilo teve uma produção artística muito variada e diversificada, devido à presença de artistas estrangeiros no país.  Como grande inovação arquitectónica, surge o conceito de Igreja Salão, em que as três naves estão à mesma altura. Esta tipologia contraria o Gótico. O edifício torna-se mais baixo, com um novo conceito de espaço tornando-se mais homogéneo. Os muros separadores entre cada nave, feitos a partir dos arcos, possibilitava que o vértice do arco chegasse ao tecto, alterado a percepção espacial mais tornando-o mais unitário. Inovação que não ocorria nos edifícios internacionais desta época. Posteriormente, as três naves passaram a ser apenas separadas pelos pilares, desaparecendo os muros e os arcos separadores. Deste modo a igreja passa a ter uma única abóbada para as três naves. Salienta-se que não há nenhum edifício assim na Europa. Relativamente às abóbadas, são diferentes em todos os edifícios com abóbadados. A abóbada Flamejante tem mais tendência para ser abatida. Sendo que a abóbada Manuelina chega ser tão abatida que com a evolução do estilo torna-se recta, surge o conceito de planificação de abóbadas,que é um sistema construtivo muito complexo, que permite um espaço muito mais homogéneo. Contudo, há uma tendência para fragilizar os elementos de suporte, moldando estes de forma a atenuar a sua força e sugerir alguma leveza, por vezes dando a sensação que a coluna se pendura no tecto.


Igreja de S. Brás (Évora, final do séc. XV)


Todo o edifício é coberto de ameias e merlões. Estes elementos de Arquitectura militar já não eram necessários nesta época. Utilizavam-se apenas como valor simbólico de conquista e de poder – questão militar está relacionada com a época dos descobrimentos.

É estabelecida uma relação entre a Arquitectura e os descobrimentos, através de elementos de carácter exótico extra-europeus, ou seja, encontrados fora da Europa.

Neste edifício existem contrafortes cilíndricos com terminações Góticas, especula-se que também possam ser recuperações de torreões da Arquitectura civil ou copias da Arquitectura indiana.

Na entrada existem as duas torres cilíndricas, com uma lojia (um avanço em relação edifício que faz a transição entre o espaço interior e exterior). Em Portugal chama-se a este avanço galilé. No interior o edifício tem apenas uma nave, com cobertura abóbadada.

Continuação do uso de elementos góticos típicos, nomeadamente no tipo de vãos. Também estão presentes elementos da Arquitectura árabe, através do arco ultrapassado (um arco de volta perfeita em que a meia volta é ligeiramente prolongada).


Igreja Matriz de Elvas


A igreja matriz de Elvas tem uma fachada com aspecto de torre militar, tem ameias e merlões no topo do edifício.

Relativamente ao portal, é tipicamente manuelino ou do Gótico flamejante.

Aqui é perceptivel que o arco ogival tem tendência para desaparecer dando lugar a arcos mais elaborados. 

O arco trilobado foi muito utilizado no Gótico flamejante por toda a Europa. (arco lateral).

Este arco Gótico não tem nada de diferente em relação àquilo que se construía na Europa, a única diferença reside na sua decoração: motivos com algas, cordas, balas de canhão, ancoras, etc. – decoração manuelina relacionada com os descobrimentos.

No interior do edifício existe um muro divisório entre naves com janelas no topo.

É um edifício totalmente abobadado de carácter muito abatido, sendo que a zona central é quase recta, existe uma tendência para o abatimento total da abóbada.


Igreja Matriz do Alvito (perto de Beja)


É um edifício de carácter fortificado e aspecto robusto, tem contrafortes de aspecto rude com bocas de canhão no topo e terminações cónicas.

Este edificio tem uma relação directa com os descobrimentos no seu sentido simbólico com elementos militares.

O edifício tem três naves à mesma altura e a abóbada é practicamente recta, é uma anunciar claro do aparecimento da igreja salão como tipologia.


Igreja Matriz de Moura


Existe uma tendência para a simplificação deste tipo de edifícios.

É uma Igreja salão à portuguesa, onde há uma leitura global do espaço, em que se consegue ver a quase totalidade das abóbadas das três naves.

Aqui esta a grande diferença do edifício manuelino: apreensão global e unitária nesta diferente leitura do espaço.


Igreja Matriz de Pavia (Alentejo)


Este edificio sofreu alterações no exterior, como é possivel identificar na fachada.

Característica de muitos dos edifícios deste período são os  contrafortes laterais cilíndricos, também presentes aqui na igreja matriz de Pavia. 

No interior do edifício não existem muros divisórios entre naves, o que permite uma leitura total do espaço. Os pilares e os arcos passam a ser os únicos elementos que fazem a divisão entre as naves. As naves laterais são muito estreitas em relação à central, o que, neste caso, contraria se certo modo essa continuidade.


Igreja Matriz de Jesus (Setúbal, final do séc. XV)


Igreja projectada pelo arquitecto espanhol Diogo De Boitaca,  também projectista dos Jerónimos.

Intencionalmente o arquitecto concebe a Igreja de Jesus como um estudo para os Jerónimos, pela sua espacialidade e decoração.

É uma igreja salão, com três naves à mesma altura, sem paredes divisórias. Os suportes são muito trabalhados, conferindo-lhes um carácter de leveza, atenuando o papel de suporte e força estrutural, dando assim a sensação de que estão pendurados no tecto.


Igreja dos Jerónimos


Igreja iniciada no princípio do séc. XVI, constituída  em diferentes fases, segundo a evolução do tempo: 1º construíu-se a igreja e torres sineiras, depois construiu-se o prolongamento a nascente, muito fechado e volumétrico. Só por volta do séc. XIX é que se fez o grande corpo horizontal de módulo de fachada repetido de arco e janela.

É um edifício simbólico, embora tenha sido feito com a intenção de albergar o túmulo de D. Manuel I.

O posicionamento do edifício junto ao rio reforça a sua relação com os descobrimentos.

Edifício em planta em Cruz latina, com três naves à mesma altura, sendo o exemplo maior da tipologia igreja salão.

No interior da igreja não há arcos separadores entre as naves, havendo uma única abóbada na cobertura, constituída por enumeros arcos, trata-se de um sistema muito complexo que permite uma abóbada muito abatida, existente apenas em Portugal. A abóbada faz a descarga na parede segundo uma técnica construtiva exemplar, em que

os pilares, embora sejam muito fortes, são trabalhados de modo a ter uma imagem contrária, ou seja, são esculpidos dando a sensação de leveza do elemento estrutural. A abóbada do transepto é mais complexa que a abóbada das naves, uma vez que é constituída por arcos de espessuras diferentes.


Igreja de Arronches (Perto de Estremoz)


O edifício sofreu muitas alterações. Construido sobre o mesmo esquema da igreja dos Jerónimos, igreja salão.

Os arcos de abóbada passam de uma nave para a outra sem qualquer interrupção, tornando a abóbada muito abatida.


Ermida de Sto. Cristo do Restelo


É um pequeno edifício de uma só nave e capela-mor, com pináculos pontiagudos em pirâmide na cobertura.

Sistema de cobertura de abóbada abatida tipicamente do Manuelino. Os fechos são marcados pelos emblemas de D. Manuel: brasão e esfera armilar.


Igreja em Beja


É uma pequena construção com uma única nave com cobertura em abóbada.

É semelhante ao edifício de S. Brás, em Évora, mas a uma escala muito menor.


Igreja de S. Sebastião (em Alvito)


É um edifício de pequenas dimensões com contrafortes cilíndricos com terminação cónica e presença de duas bocas de canhão.

No interior tem o sistema construtivo em abóbada aplicado nos Jerónimos: abóbada com cruzamento de dois arcos abatidos.

No século XVII a abóbada foi pintada com um fresco em que cada pano desta, representa um anjo com um instrumento musical.


Janela do Convento de Cristo (Tomar)


Ícone incontestável do Manuelino a janela do Convento de  Cristo tem inúmeros elementos decorativos: esferas armilares, brasão do Rei, cordas, conchas, algas, etc, caracteristicas únicas deste periodo. O seu simbolismo  torna-se mais evidente através da figura de uma cabeça que é apertada por um nó de uma corda, é uma clara referência às dificuldades e perigos que os navegadores portugueses  passaram no mar.

Nesta época quase todas as famílias tinham uma relação com os descobrimentos, através de um familiar ou amigo que fosse navegador. Todos os elementos decorativos desta época eram referências da prática dos descobrimentos.


Manuelino - Arquitectura Civil


Habitação Nobre

Num periodo de apogeu económico, o Rei D. Manuel intervém nos Paços reais, introduzindo o seu estilo muito próprio e manda construir Paços de raiz.


Paço real em Alvito (perto de Beja)


Trata-se de um edifício com uma estrutura de grandes dimensões, pois tem quatro torres cilíndricas ligadas entre si através de 4 corpos horizontais.

Existe em todo o edifício uma forte presença da Arquitectura árabe. Exemplo disso é o pátio que apesar de sugerir um claustro é claramente um pátio de morfologia árabe. Este pátio estabelece uma relação com o edifício semelhante à relação entre o edifício e a rua.


Paço de Sintra


O Paço de Sintra é constituído por vários volumes construídos ao longo de sucessivas épocas, é um dos edifícios portugueses de arquitectura realenga mais mediáticos e por isso classificado de Monumento Nacional.

A origem deste Paço remonta provavelmente para o paço dos walis mouros. 

A imagem do edifício actual resulta de duas etapas de remodelação: a primeira, no reinado de D. João I (séc. XV); a segunda, no reinado de D. Manuel I (séc. XVI).

Este edifício tem o maior conjunto de azulejos mudéjares de Portugal.

É um edifício notável devido às suas duas grandes chaminés. É um dos "ex-libris" de Sintra.


Paço de Évora


Edifício construído antes do reinado de D. Manuel e posteriormente modificado por este.

Existe uma forte influência árabe, através dos arcos árabes em tijolo, por outro lado estão presentes as cordas da gramática manuelina.

Este Paço era um dos edifícios mais importantes do reino, tendo como principais elementos o claustro do renascimento, a Sala da Rainha, o refeitório e a biblioteca régia.

Actualmente, a Galeria das Damas é o restou do edifício como exemplo do estilo manuelino, apesar dos traços renascentistas.  O edifício é composto por um piso térreo, de planta rectangular, onde subsiste a Galeria, um pavilhão fechado e o alpendre. Relativamente ao piso superior, existem dois salões e um vestíbulo de estilo mourisco. No exterior existe o torreão, este é constituído por dois andares e termina num pináculo hexagonal com uma porta manuelina.


Torre de Belém 


O nome original do edifício é Torre de São Vicente e foi edificada entre 1515 e 1519, no reinado de Dom Manuel tendo como objetivo a defesa do rio Tejo e da cidade de Lisboa, situada a meio do rio, rodeada de água, uma vez que o rio se prolongava até aos Jerónimos.

A Torre é constituída pelo Baluarte e a Torre.

Sendo que o Baluarte tem a forma hexagonal e o interior é constituído por um pátio com aberturas para as peças de artilharia e caves que foram utilizadas como espaços de prisões.

O terraço é rodeado de ameias e seis guaritas. Salientando o aspecto defensivo. 

A Torre possui quatro andares: no primeiro situa-se a Sala do Governador, no segundo andar, na Sala dos Reis com uma varanda virada para o rio; no terceiro piso fica a Sala de reuniões, no último andar encontramos uma capela, e por fim, o Terraço com ameias e quatro guaritas. Todo o monumento está decorado ao estilo Manuelino.

Este edifício é uma síntese da arquitectura do Manuelino, simbólica e aposta no exotismo. É o verdadeiro símbolo dos descobrimentos.

É um edifício de grande qualidade feito pelos arquitectos portugueses Francisco e Miguel De Arruda.


Fontes:




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